segunda-feira, 25 de abril de 2005

 

25 de Abril


Nesta passagem de mais um aniversário da Revolução do 25 de Abril, nada mais a propósito que a entrevista que Vasco Gonçalves concedeu à «Visão».
A primeira impressão que transparece da entrevista é a de um homem sereno e de consciência tranquila e que, após ter escrito uma página importante da História de Portugal, se mantém fiel às suas convicções, numa coerência notável e cada vez mais difícil de encontrar.

Mas à medida que a entrevista decorre, assaltam-me as recordações daquela época, numa sensação mista de nostalgia de tempos de atribulada juventude, e de uma profunda ingenuidade política.
A distância torna hoje inesperadamente inúteis, e até quase ridículas, tantas lutas e preocupações.

Mas, o que é certo, é que talvez nos tenhamos esquecido de como poderiam ter sido diferentes os tempos que se seguiram ao 25 de Abril, e que culminaram no 11 de Março, se não tivessem ocorrido a manifestação da Fonte Luminosa ou o 25 de Novembro.
A memória dos tempos da «Muralha de Aço», ou do «discurso de Almada», e de tudo aquilo que uma determinada facção política (a que alguém chamou “Gonçalvismo”) vinha fria e persistentemente planeando para Portugal, parece agora mais viva perante afirmações como estas de Vasco Gonçalves:

«... mesmo antes das eleições, aliás, tinha noção de que o nosso povo não estava preparado politicamente para não ser confundido, com receio de pela via eleitoral se perderem as conquistas alcançadas pela via revolucionária...».
«... antes das eleições e da elaboração do pacto MFA-Partidos eu propus ao Dr. Mário Soares que se constituísse uma Frente Democrática com os diversos partidos... Mário Soares opôs-se liminarmente à minha proposta, afirmando que era preciso cada um saber a sua própria força. Depois, armados com os resultados eleitorais, PS e PPD... ».
«... embora eu e os meus camaradas não estivéssemos ao serviço do Partido Comunista. Mas havia uma certa identificação nas ideias políticas».
«...Quando fiz esse discurso de Almada, eram já grandes as divisões internas no MFA. O meu objectivo era desmascarar os que diziam querer avançar para o socialismo por uma via pacífica e pluralista mas, na prática, estavam a combater o socialismo».
«... defendia uma democracia... que não fosse uma espécie de ditadura da burguesia em regime democrático...».



No final da entrevista a imagem de Vasco Gonçalves que acaba por permanecer é a de um velho derrotado, pateticamente agarrado a ideais anacrónicos e que ainda não sabe que o Muro de Berlim caiu já.

De Vasco Gonçalves, fica a imagem de uma inútil e triste decadência, como esta fabulosa foto (roubada ao Z no «Uma Por Rolo») excelentemente retrata.

Ou então, talvez seja simplesmente a imagem do próprio 25 de Abril: a imagem de um homem a gozar o seu confortável retiro dourado de general reformado.


Que, decerto, não teria permitido aos seus adversários políticos se lhes tivesse ganho...



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