quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

 

Olhó Robot



Precedido por uma imagem de competência tecnocrática que tão pacientemente soube cultivar nos últimos 10 anos, Aníbal Cavaco Silva apareceu na pré-campanha para as eleições presidenciais agraciado nas sondagens com uma confortável vantagem sobre todos os restantes candidatos.

A falta de comparência de um oponente que verdadeiramente lhe pudesse fazer frente, a novela da candidatura de Manuel Alegre e um Mário Soares requentado e já sem chama prenunciam-lhe agora uma vitória já à primeira volta.

Conhecedores, como é óbvio, desta vantagem, Cavaco Silva e os seus estrategas de campanha sabem muito bem que, se a percentagem das intenções de voto que as sondagens lhe atribuem dificilmente poderá subir, ela pode muito bem descer ao mínimo erro ou ao mais pequeno passo em falso.
Devem estar mesmo a rezar desesperadamente para que a campanha eleitoral passe depressa e que chegue já o dias das eleições, para que toda esta ansiedade termine de uma vez por todas.
Nem sequer o deixam comer bolo-rei!

É assim que temos assistido a um Cavaco Silva que se apresenta nesta campanha eleitoral incompreensivelmente crispado, nervoso e titubeante, com um discurso artificial e visivelmente ensaiado até ao mínimo pormenor.
E que, como um autêntico “robot”, debita mecanicamente frases feitas.

Sem sequer conseguir disfarçar o tédio, o enfado e a autêntica sensação de inutilidade que a campanha eleitoral inquestionavelmente lhe causa.
Ao mesmo tempo, e procurando capitalizar a sua reputação, deriva invariavelmente para a área económica todas e quaisquer questões que lhe são postas pelos jornalistas: ora preconizando a estabilidade governamental, ora defendendo a necessidade de uma contenção orçamental, enquanto faz de conta que se esqueceu que o «monstro do défice» se deve em grande parte a si próprio.

Decerto para não se enganar, já que dúvidas decerto não terá, Cavaco Silva não respondeu ainda a uma única das questões que lhe foram colocadas fora das áreas da economia e das finanças.

Se lhe perguntam se vetaria politicamente uma determinada lei laboral ou qualquer outro diploma mais ou menos inovador ou polémico que lhe fosse submetido para promulgação, Cavaco pura e simplesmente... recusa-se a responder!

O que é perfeitamente natural, pois Cavaco Silva bem sabe que enquanto se mantiver calado não diz asneiras: toda a gente sabe que em boca fechada não entram moscas.
Ainda que isso seja, de facto, muito pouco dignificante para quem se prenuncia como o próximo Presidente da República.

O que já não é tão natural é que tanta gente tencione votar em Cavaco Silva absolutamente no escuro, esquecendo o autoritarismo, a arrogância, o provincianismo bacoco e o completo autismo político dos tempos dos seus governos e, afinal, sem fazer a mínima ideia de quem é este homem, o que ele pensa, ou o que ele fará em circunstâncias extremas se eventualmente vier a ser eleito Presidente da República.

O que, convenhamos, é muito pouco dignificante para um cidadão eleitor.
E também para a própria Democracia.




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