quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

 

Uma Escolha Consciente



Segundo a «Agência Ecclesia» o Papa Bento XVI decidiu nesta quadra de Natal inspirar-se em Santo Agostinho.

De facto, o Papa elegeu uma exortação de Santo Agostinho para os votos do primeiro Natal do seu pontificado.
Pelo seu próprio punho, o Papa escreveu em latim:
«Expergiscere, homo: quia pro te Deus factus est homo»
Que é como quem diz: «Desperta, homem: porque, por ti, Deus se fez homem».

Mas quem foi este tal de Santo Agostinho?

Aurelius Augustinus, que viveu entre os anos 354 e 430 foi considerado um «Doutor da Igreja» e deixou uma obra vastíssima entre livros, cartas e sermões.

Sem sermos exaustivos, respiguemos (principalmente da Wikipedia) apenas alguns aspectos da biografia deste brilhante cristão, até para tentarmos compreender de onde vem a admiração que, pelos vistos, por ele sente o Santo Padre, o Papa Bento XVI.

Para já, Santo Agostinho é considerado pelos protestantes evangélicos a fonte teológica inspiradora da Reforma.
Não obstante, este santo homem começou por ser um fervoroso adepto do Maniqueísmo, uma espécie de mistura explosiva de Zoroastro com Jesus Cristo. Só aos 33 anos, sob a nefasta influência de Santo Ambrósio, bispo de Milão, se converteu ao cristianismo.

Depois era um confesso tarado sexual e, como se não bastasse um irredutível pedófilo.
Enquanto proclamava a sua máxima preferida «dêem-me a castidade, mas por enquanto ainda não», Santo Agostinho manteve por mais de uma década uma concubina de tenra idade, e que lhe deu um filho. Mas que não hesitou em abandonar à sua sorte para fazer um casamento de sociedade.
Uma vez mais teve de esperar dois anos para que a sua noiva tivesse idade legal para casar.

Foi ordenado padre em 391. É nomeado bispo assistente de Hipona cinco anos depois, abandona mais uma mulher e converte-se então ao celibato.
Coincidência ou não, juntou-se com um grupo de amigos, criou uma fundação monástica em Tagaste e fechou-se com eles lá dentro.

Deve-se a Santo Agostinho a adopção oficial pelo cristianismo ocidental da ideia de «pecado original» e também do conceito da «predestinação divina», tão do agrado de tantos teólogos ainda hoje.
Foi também a sua hábil distinção teórica entre «magia» e «milagres» que durante séculos sustentou ideologicamente a luta da Igreja contra o paganismo e a bruxaria.

Santo Agostinho foi também um feroz anti-semita, defendendo a dispersão dos judeus pelo mundo.
Separou habilmente a origem judaica de Jesus Cristo do judaísmo de um modo geral porque, dizia, os judeus não acreditavam que Cristo fosse o Messias.
As suas teorias serviram de base ideológica para inúmeras perseguições a judeus, que considerava irrecuperáveis inimigos da Igreja Cristã.

Mas foi principalmente a sua luta sem quartel contra os Donatistas que mais fama granjeou a Santo Agostinho.
O Donatismo foi uma doutrina religiosa cristã que defendia que os sacramentos só eram válidos se quem os ministrava era digno de o fazer.
Pelo contrário a religião católica defende que os sacramentos valem por si, seja o ministrante (geralmente um sacerdote) um indivíduo corrupto ou não.

É então que este santo homem defende pura e simplesmente o uso da força contra os donatistas e a sua completa aniquilação, dizendo:
«Porque não deveria a Igreja usar da força para compelir seus filhos perdidos a retornar, se os filhos perdidos compelem outros à sua própria destruição?»

Em suma:
É neste homem que o Papa Bento XVI resolveu inspirar-se neste aniversário do nascimento do Deus dos cristãos.
Um homem que além de tarado sexual, pedófilo e anti-semita, defendia o assassinato e a aniquilação física de quem não perfilhava as suas ideias religiosas.

Uma escolha certamente muito consciente.
E que, por isso mesmo, é bem capaz de dizer muito de Bento XVI...



(Publicado simultaneamente no «Diário Ateísta»)




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