quinta-feira, 1 de março de 2007

 

Défice de Inteligência



A proposta de lei sobre o aborto foi já apresentada na Assembleia da República.
A proposta, muito equilibrada e moderada, propõe um período de reflexão de três dias e a criação de um registo nacional de médicos objectores de consciência. Em relação ao acompanhamento este é facultativo.
Como disse José Sócrates, «o acompanhamento é um direito da mulher, não um dever» e é apenas necessário garantir que «se [a mulher] achar que necessita dele, ele estará disponível».

Como era expectável, a Igreja Católica, depois de perder nas urnas o referendo, quer ganhá-lo na secretaria e não se conforma com a proposta de lei.
Assim por intermédio de Isilda Pegado ulula estridentemente que «esta lei vem contra aquilo que foram as promessas eleitorais».

Se bem me lembro, e eu andei activamente em campanha, o SIM fez campanha, contra todas as falácias e mentiras do NÃO, pela despenalização da IVG, até às 10 semanas, por opção da mulher em estabelecimento autorizado de saúde. E diria que é isso que está regulamentado nesta proposta.
Se a mulher tiver dúvidas em relação à sua opção tem à sua disposição todo o acompanhamento que desejar, se não as tiver não faz sentido abrigá-la a um acompanhamento indesejado.
Mas a opção final deve ser da mulher não de qualquer comissão de dissuasão!

Mas, como ironiza Fernanda Câncio num post absolutamente imperdível no Glória Fácil, «a dra isilda pegado considera que quem defendeu, na campanha para o referendo, a despenalização do aborto até às dez semanas por opção da mulher em estabelecimento legalmente autorizado, não pode estar agora a querer possibilitar a realização legal de abortos às dez semanas por opção da mulher em estabelecimento legalmente autorizado.»

Para além de considerar que as portuguesas são débeis mentais sem capacidade de decisão autónoma que devem ser obrigatoriamente dissuadidas da sua opção por uma IVG, Isilda Pegado considera que «três dias são ‘uma brincadeira’», provavelmente querendo um período de reflexão de, sei lá, pelo menos 2 semanas.

Considerando que durante a campanha a devota católica jurava a pés juntos que nenhuma mulher sabia estar grávida antes das 8 semanas, diria que duas semanas seria o prazo mínimo «consensual» para os fundamentalistas do NÃO!

Não deixa ainda de ser curioso que Isilda Pegado considere «gravíssimo» e um «estigma» - não uma honra - a existência de uma lista de objectores de consciência e sugira uma lista «dos médicos que fazem aborto».
Quiçá para os denunciar como «assassinos» num site de defesa intransigente da vida como alguns análogos norte-americanos

Nunca deixará de me surpreender a desonestidade intelectual e o totalitarismo dos fundamentalistas católicos que depois de derrotados nas urnas na sua pretensão de impor a todos a (i)moral de alguns, pretendem agora ser «obrigação do Estado» fazê-lo!


- Um artigo de Palmira F. da Silva



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