terça-feira, 10 de julho de 2007

 

O Falangista



Uma das principais atracções das festas anuais de Pamplona, em Espanha, para além das célebres largadas de touros, é o desfile de grupos de jovens que, enquanto cantam e dançam pelas ruas acompanhados por barulhentas charangas, levam cartazes com representações de temas críticos da actualidade política, social e religiosa.

Este ano, um desses grupos, a «Sociedad Cultural Muthiko Alaiak» decidiu apresentar no seu cartaz um "cartoon" que pretendia satirizar declarações do arcebispo espanhol Fernando Sebastián, que relacionou a defesa do cristianismo e dos «verdadeiros valores cristãos» com os partidos da extrema-direita espanhola, e mais concretamente da «Falange Española», representando-o com o símbolo dos «falangistas» ao peito e a segurar um crucifixo onde se pode ver Jesus Cristo a fazer a saudação fascista.

Foi o quanto bastou para fazer deste sacrílego desenho o tema central das festas deste ano, num ambiente que faz obviamente lembrar a recente polémica gerada à volta das célebres caricaturas de Maomé.
O grupo autor do cartaz resistiu a todas as formas de pressão, incluindo por parte do Governo Autónomo, das autoridades municipais e do próprio arcebispo, e recusou-se terminantemente a retirar o cartaz do desfile, ou sequer a modificá-lo, invocando o seu direito à liberdade de expressão.

Só que as semelhanças com a reacções às caricaturas de Maomé não se ficam por aqui: como as religiões são mesmo todas iguais, também os jovens membros do «Muthiko Alaiak» tiveram de tomar medidas não só para proteger o cartaz até à hora do desfile, mas tiveram inclusivamente de contratar seguranças pessoais, ante a persistência das ameaças de que têm sido alvo por parte de muitos fervorosos e piedosos católicos que têm formas mais peculiares de manifestar a sua indignação e de amar o próximo como a si mesmos.

Entretanto a «Asociación Católica de Propagandistas» organizou uma «missa de desagravo» onde compareceram centenas de pessoas, incluindo a própria Presidente da Câmara e destacados membros de partidos da direita, todas elas indignadas, coitadas, com este autêntico ultraje à Humanidade, para pedirem a Deus que impedisse que o cartaz, entretanto tornado famoso, fosse exibido no desfile. Ou até que fosse sequer reproduzido por esse mundo fora.

Mas, ao que parece, a missa não resultou...





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