segunda-feira, 10 de setembro de 2007

 

Não vou!



Um amigo convidou-me para ir com ele este fim de semana à «Festa do «Avante».

Antecipando alguma renitência da minha parte, acenou-me um bilhete que tinha disponível e pôs-se logo a perorar sobre as características da «festa»:
- Que, sim senhor, era uma festa político-partidária, mas que milhares de pessoas, como ele, que não são comunistas, gostavam de lá ir para assistir aos concertos musicais, às exposições e às manifestações culturais de muitos países.

Mas mais: como principal atractivo havia também uma «barraquinha» muito especial, que ele visitava todos os anos, e que servia umas deliciosas gambas grelhadas e umas ostras fresquíssimas, tudo isto regado com um espumante bem gelado e de ir às lágrimas. E ainda por cima tudo isto a um preço muito convidativo e que não se encontra "cá fora".

Pois é.
Mas o que é facto é que as gambas, as ostras e o espumante, não deixam de ter por trás uma festa política, um evento com uma conotação partidária específica e, por isso mesmo, com uma carga ideológica bem determinada.
Com discurso de Jerónimo de Sousa no final e tudo.

Mas não será que é possível dissociar as gambas, as ostras e o espumante da conotação político-partidária da «Festa do Avante»?

Imaginemos então uma situação, digamos, «simétrica»:

Imaginemos que havia, por exemplo, uma qualquer «Festa do PNR» também com barraquinhas de ostras, gambas e espumante fresquinho, e com discurso do inefável Pinto Coelho no final e tudo.

Imaginemos também que nessa festa havia uns «stands» promocionais de partidos neo-nazis provenientes de vários pontos do mundo, com uns rapazes muito simpáticos com as cabeças rapadas e de botas «Doc Martens» a servir uns copinhos de "schnaps" e a arengar sobre as virtudes do racismo, da homofobia e da xenofobia e a defender a pureza da «raça europeia».
E a impingirem-nos que, em nome de tudo isso, devemos perseguir os homossexuais e expulsar de Portugal os judeus, os pretos e toda essa caterva de estrangeiros que por aí pululam impunemente no nosso país.
Tudo isto decorado com coloridas e gigantescas suásticas e dezenas de “posters” de Adolf Hitler espalhados por todo o lado, todos louvando a sua genialidade política ou até mesmo as suas brilhantes aptidões tácticas e militares.

Será que era possível ignorarmos todo este delírio imbecil e irmos pacificamente à tal «Festa do PNR» comer ostras e gambas com espumante fresquinho?

É óbvio que não!!!
A dissociação política era pura e simplesmente impossível!

Pois!
Mas o que se passa é que a «Festa do Avante» é organizada pelo Partido Comunista Português.
Um partido cujo líder parlamentar não se cansa de louvar as virtudes civilizacionais e políticas da Coreia do Norte e das elevadas qualidades humanitárias do seu actual «Grande Líder Paternal», Kim Jong-Il.

O que se passa é que na «Festa do Avante» deste ano irão ser valorizados «os aspectos mais concretos do imenso património de conquistas da Grande Revolução Socialista de Outubro».
Ora, quando falam desse «imenso património», os mais altos responsáveis políticos do P.C.P., não poderão deixar de estar a pensar nas dezenas de milhão de mortos que essas tais «conquistas da Grande Revolução Socialista de Outubro» trouxeram consigo.

O que se passa é que nesta «Festa do Avante» será evocada (e muito bem, aliás) a memória de Adriano Correia de Oliveira que este ano faria 65 anos.
Mas não se falará sequer de José Carlos Ary dos Santos, que este ano faria 70 anos e que, pelo simples facto de ser homossexual, foi expulso do Partido Comunista Português a quem tinha dedicado toda a sua vida.

E o que se passa é que na «Festa do Avante» estão instalados «stands» promovidos por países ou organizações por quem o P.C.P. não esconde uma estreita conotação ideológica e uma inegável afinidade política, da China à Bielorúsia, passando pela O.L.P.

Na «Festa do Avante» há um «stand» promocional de Cuba e do seu regime político abjecto e sanguinário, que só se mantém suportado pela imbecilidade do embargo americano, não ignorando o P.C.P. a oligarquia instalada e os milhares de presos políticos que já morreram ou ainda apodrecem esquecidos em dezenas de campos de concentração.

Na «Festa do Avante» há um «stand» promocional do Partido Comunista Colombiano que não é mais do que o suporte político das tenebrosas F.A.R.C. (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), uma organização terrorista que se subsidia a si própria com o tráfico de cocaína e pela pacífica convivência e salutar cooperação com os grandes traficantes de droga internacionais, que é responsável por impiedosos atentados e pelo assassinato de centenas de pessoas – homens, mulheres e crianças – e pelo rapto da candidata às eleições presidenciais Ingrid Bettancourt que, tal como a centenas de outras pessoas, mantém refém há vários anos.

Terá sido nas F.A.R.C. que foi inspirado o lema da «Festa do Avante» deste ano, que é «A Luta é o Caminho»?...

O que é certo é que na «Festa do Avante» do ano passado as F.A.R.C. tiveram mesmo direito um «stand» promocional só para si!
Este ano, face à polémica então criada, «só» o P.C. Colombiano teve essa honra. Como se ambos não fossem uma e a mesma coisa...
Mas para que não houvesse equívocos políticos sobre a questão, o responsável pela organização da «Festa do Avante» apressou-se a esclarecer: «Não mudámos a nossa opinião política sobre as F.A.R.C.».
E assim, na verdade, tudo fica mais claro.

Em suma:
Será que, de facto, embora «de sinais opostos», existiria alguma diferença do ponto de vista estritamente político entre a tal «Festa do PNR» e a «Festa do Avante»?
É óbvio que não!

Por isso, sempre que me tornarem a convidar para ir a uma ou a outra, a minha resposta só poderá ser uma:
- Não! Não vou!




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