sexta-feira, 27 de junho de 2008

 

O Jeito Fácil da «Easy Jet»



A história é simples e conta-se em duas penadas:

Lá para Novembro do ano passado uma simpática senhora de uma «empresa de comunicação» chamada "Tinkle" telefonou-me para o escritório.

Segundo me disse, representava uma companhia de aviação de “low cost”, a «Easy Jet», e queria saber se eu alinhava numa espécie de peça de teatro que passava por uma encenação de um casamento entre a Teresa e a Lena a bordo de um avião daquela companhia, já em sobrevoo do espaço aéreo espanhol.

Como é por demais óbvio, declinei veementemente tal “honroso” convite.
Mas expliquei porquê: primeiro porque se via logo que o objectivo da encenação mais não passava do que a fabricação de uma “não-notícia” para aproveitamento publicitário de um caso mediático, da usurpação da imagem de duas cidadãs para promoção de uma empresa comercial, e que até passava, segundo me parecia, pelo achincalhamento muito pouco ético dos jornalistas que tivessem a ingenuidade de cair na esparrela e de publicar a tal “não-notícia”.

Depois, porque com um processo judicial “delicado” ainda pendente no Tribunal Constitucional e a aguardar uma decisão que, qualquer que ela seja, será certamente polémica, o que eu não poderia deixar de aconselhar às minhas clientes era simplesmente muito, mas muito recato.
Que é como quem diz que optassem pelo “low profile” em vez do “low cost”.

A senhora da agência ouviu atentamente a minha opinião, mas pediu-me que lhe desse o contacto telefónico da Teresa e da Lena, o que não pude deixar de fazer.
Contudo, liguei imediatamente à Teresa e à Lena e alertei-as para a proposta que iriam receber e aconselhei-as vivamente a rejeitá-la.

Mas a Teresa e a Lena decidiram não seguir o meu conselho e aceitaram a proposta.
Decerto a tentação foi mais forte, e talvez falasse mais alto a oportunidade única e a emoção de um baptismo de voo, que até poderiam também proporcionar às filhas.

E como são maiores e vacinadas e sabem bem o que fazem, a Teresa e a Lena lá fecharam negócio com a “Tinkle” e com a «Easy Jet» como quiseram e lá muito bem entenderam.

As condições do «negócio» foram simples e constam bem explícitas nos emails que desde então foram trocados:
- A «Easy Jet» oferecia à Teresa e à Lena nada menos do que 3 viagens de fim-de-semana com destino à sua escolha, incluindo alojamento com pensão completa e deslocações, de e para os aeroportos, e somente nas ocasiões em que os seus compromissos laborais lhes permitissem viajar.

Em contrapartida, a Teresa e a Lena teriam de fazer a sua parte:
- Viajar no dia 19 de Dezembro de 2007 de Lisboa para Madrid num avião da «Easy Jet», a bordo do qual encenariam um «compromisso», que passava pela troca de umas pulseiras que teriam de comprar.
Depois, teriam de se disponibilizar incondicionalmente para todas as entrevistas à comunicação social que lhes fossem solicitadas.
Finalmente, teriam de fazer de conta que tinham sido elas a contactar a «Easy Jet» e a propor-lhes o «negócio» e não o inverso, como de facto tinha sucedido.

E assim foi, e no dia 19 de Dezembro lá foram a Teresa e a Lena passear de avião até Madrid. O resto é já de domínio público.

Mas, ao que parece, a coisa não correu lá muito bem à «Easy Jet», e o impacto mediático não foi propriamente o que tinha sido previsto.
Talvez mesmo a mensagem que na ocasião passou tenha criado mais danos à imagem da «Easy Jet» do que uma verdadeira promoção comercial positiva da sua marca.

Mas isto é somente uma mera impressão pessoal que tenho sobre um assunto de que nada percebo, e sobre o qual nem dados precisos ou concretos possuo.

Pois bem:
Só que, a certa altura, chegou a ocasião de a «Easy Jet» cumprir a sua parte do negócio, e ir proporcionando à Teresa e à Lena cada uma das três viagens de fim-de-semana que lhes tinha oferecido.

Pois é.
Mas acontece que ao que parece a «Easy Jet» não está pelos ajustes.
E como o «negócio» não rendeu o que esperava, a «Easy Jet» achou-se no direito de roer a corda à Teresa e à Lena.

Afinal já não eram três viagens, já não havia pensão completa, já não havia transportes, já não era para um lugar qualquer à escolha e, finalmente, tinha de ficar tudo resolvido muito rapidamente e de acordo com a disponibilidade de voos da «Easy Jet», que já não queria saber se a Teresa e a Lena tinham compromissos com os seus empregos ou não.

A troca de emails entre a «Easy Jet» e a Teresa e a Lena é de facto surrealista.

De início esta renomada empresa de “low cost” manteve bem elevados os seus padrões de violação de compromissos contratuais.
Nem sequer se demoveram quando a Teresa e a Lena iam lembrando que tudo tinham cumprido da sua parte, incluindo dizerem aos jornalistas que a iniciativa do «compromisso a bordo» tinha sido sua ideia, e que tudo tinha começado porque tinham sido elas a contactar a «Easy Jet» e não quando uma «empresa de comunicação» tinha contactado o seu advogado, como de facto acontecera.

Mas finalmente, e ao fim de vários meses de negociações, lá veio a última e final proposta da «Easy Jet»:
Magnanimamente, são agora propostas unicamente 2 viagens, em vez de 3, e com partida de Lisboa ou Porto, mas unicamente para destinos da «Easy Jet»; continua ainda incluído o alojamento por duas noites, mas agora já sem pensão completa e também já sem o pagamento das despesas de transporte para os aeroportos.
Finalmente, a Teresa e a Lena têm de realizar as viagens até ao fim do ano ou «perdem o direito a elas».

Mas a «Easy Jet» tem ao seu serviço colaboradores de uma gentileza inexcedível, e que não quiseram deixar de explicar á Teresa e à Lena a que se deve esta mudança de atitude e esta recusa de cumprirem o compromisso que perante elas tinham assumido.

Num linguajar lusófono bem peculiar, diz assim a «Easy Jet» à Teresa e à Lena:

«Espero que possam compreender que a nossa situação também é complicada pelos resultados obtidos nessa data, que ainda vocês não foram as responsáveis directas, sim o foi o vosso advogado. Mas, como disse anteriormente, sempre estou a conseguir uma solução à este tema».

Em suma:
- Parece que às vezes é bem difícil distinguir «low cost» de «low standards».




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