sexta-feira, 6 de junho de 2008

 

O Respeito da Igreja



Sob o título «Igreja respeita ateus e espera ser respeitada», a «Agência Ecclesia» noticia a recente criação da «Associação Ateísta Portuguesa» e cita a posição do Cardeal-Patriarca de Lisboa, o Dr. José Policarpo.

Aqui vai a notícia na íntegra (os destaques são meus):

«O Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, assegurou esta Quinta-feira que a Igreja respeita os ateus e espera o mesmo respeito por parte destes.
«Num encontro com jornalistas, no qual foi questionado a respeito da criação da Associação Ateísta Portuguesa (AAP), o Patriarca assegurou que “cá estaremos para respeitar e dialogar, esperando também ser respeitados”.

«A recém-criada AAP manifestou-se contra várias tomadas de posição da Igreja Católica em relação ao ateísmo, incluindo uma do próprio Cardeal D. José Policarpo. Na sua homilia de Natal de 2007, este responsável afirmou que “todas as expressões de ateísmo, todas as formas existenciais de negação ou esquecimento de Deus, continuam a ser o maior drama da humanidade”.

«Hoje, aos jornalistas, o Patriarca de Lisboa voltou a sublinhar que “se eu acredito que Deus é essencial na vida do homem, desconhecê-lo é um problema fundamental na vida do homem”.
«Assegurando que “é um direito” a organização em associações deste género, o Cardeal português não deixou de afirmar que “não gostei da fundamentação” com que surgiu a AAP.

«A associação foi oficialmente constituída na Sexta-feira, 30 de Maio, em Lisboa, por cerca de meia centena de pessoas, tendo na altura sido denunciada uma “generalizada ofensiva clerical a que Portugal não ficou imune”.
«As críticas subiram de tom numa carta da AAP ao Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, tornada pública, na qual se afirma que “alguns bispos têm atacado o ateísmo e os ateus”.

«A missiva é particularmente dura em relação ao Cardeal Saraiva Martins, apresentado como “pesquisador de milagres e criador de beatos e santos” e acusado de ter presidido em Fátima, no passado mês de Maio, a uma alegada “peregrinação contra o ateísmo na Europa”.
«O prefeito da Congregação para as Causas dos Santos criticou, na sua homilia do 13 de Maio, as "ideologias ateias e materialistas, que procuraram sufocar a luz da Fé no coração dos homens" durante o século XX, numa peregrinação subordinada ao tema «Não levantar falsos testemunhos - "Viver na verdade"».

«“É o espírito belicista dos cruzados que ainda corrói a mente do vetusto cardeal da Cúria?”, questiona o texto, assinado por Carlos Esperança.

«Neste contexto, D. José Policarpo disse que “temos um grande respeito pelo ateísmo, uma atitude conhecida já no Antigo Testamento”, mas frisou que “nem todos os ateus são iguais”.
«“O que para mim é novo é que o ateísmo se transforme em comunidade ateia, parecida com as comunidades crentes”, frisou, antes de referir que “o ateísmo e o agnosticismo não são a mesma coisa”».


Pois bem:
Só dois pequenos comentários:

1º- Está muito enganado o Dr. Policarpo se pensa que o ateísmo se vai transformar numa «comunidade ateia» e muito menos numa comunidade «parecida com as comunidades crentes».

Porque, ao contrário das «comunidades crentes», os ateus, quando se associam ou se reúnem não o fazem para receber lições de moral de pastores de camelos da Idade do Bronze, porque têm a sua própria ética, que é racional e Humanista, e que aceitam só por si e pelo seu valor intrínseco.
Muito menos adoptam dogmas irracionais ou posturas de sabuja reverência perante entidades imaginárias ou ícones de gesso, ou se dedicam a cerimónias mitológicas de negociação da vida eterna.

2º- Apesar de o texto transcrito ter como título «Igreja respeita ateus e espera ser respeitada», acaba por ficar perfeitamente entendida a mensagem clara e cristalina do Dr. Policarpo e qual a sua verdadeira postura perante os ateus e o ateísmo quando nos diz:
- «temos um grande respeito pelo ateísmo, uma atitude conhecida já no Antigo Testamento».

Vejamos então alguns exemplos dessa «atitude» do Antigo Testamento perante o ateísmo a quem, pelos vistos, o bom do Dr. Policarpo dedica um grande «respeito»:

«...aquele que for tomado como anátema será queimado a fogo, ele e tudo quanto tiver» - Josué, 7:15

«E falou o Senhor a Moisés: tira o que tem blasfemado para fora do arraial; e todos os que o ouviram porão as suas mãos sobre a sua cabeça; então toda a congregação o apedrejará» - Levítico, 24:13

Das dezenas e dezenas que se poderiam retirar da Bíblia e desse tal Antigo Testamento que cita, são apenas dois exemplos, mas claramente elucidativos do que o Dr. Policarpo pensa sobre os ateus e qual a sua verdadeira «atitude» perante o ateísmo.
De facto, tudo fica agora claro como água!

Diz o Dr. Policarpo que “nem todos os ateus são iguais”.
- Mas, pelos vistos, quando se fala de ateísmo, todos os crentes o são…




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