terça-feira, 14 de setembro de 2010

 

Dr. Cavaco, dá licença?



Um texto de Isabel Moreira -> aqui


«Se o senhor Presidente não se incomodasse eu gostaria de lhe dirigir umas palavras, adiantando já que serão palavras educadíssimas, mesmo quando me limitar a narrar factos, o que às vezes pode traduzir-se numa linguagem dura, vá, directa, sim, mas no meu dicionário isso nada tem de pouco educado.

Por outro lado, gostava de brindar o senhor Presidente com a alegria de se saber um político, imagine, e por isso sujeito a elogios e a críticas, o que me leva a requerer que não tome qualquer crítica minha como falta de chá, ódio ou mesmo resultado de um problema psicológico.

Eu percebo que seja mais agradável assistir todos os dias aos ataques feitos a essa coisa que se chama "o outro", mas, imagine, senhor Presidente, que estando V. Ex.ª a ocupar esse cargo, eleito pelo povo, sem o meu voto, é certo, mas ainda assim jurando defender a Constituição, que é de todos e a todos representando, eu pedia-lhe que pusesse os pés na terra e que descobrisse a alegria de pertencer ao mundo dos vivos, no seu caso particular, ao mundo dos titulares de cargos políticos, no seu caso particular logo o de PR, ora já viu que maçada nós que o elegemos termos o direito de nos expressarmos acerca da forma como exerce o seu mandato?

É isto, é esta coisa maçadora para si, chama-se democracia. Eu reparei, quando promulgou a lei que consagrou o CPMS, por exemplo, que estava muito desagradado com o facto de a maioria parlamentar, que tinha posto a dita lei no respectivo programa de governo, não ter aprovado a proposta da oposição, sim, reparei, tomei nota da angústia que a democracia causa no senhor Presidente. De resto, recordo-me de si quando era PM, quando não se enganava ou não tinha dúvidas ou lá o que era. Recordo-me de como achava dispensável ir à AR, aquele órgão muito chato, eleito por todos nós, que tem representadas as principais correntes políticas presentes na sociedade. Era fastidioso para si, claro, estava-se tão bem em São Bento, a decidir tudo por decreto, para quê ir aturar vozes, plural, vozes, que cansativo, e São Bento tão agradável, já outro senhor que percebia de finanças não diria melhor.

Agora teve o senhor Presidente de aturar uma carta escrita a pensar nas presidenciais onde a histérica da Deputada europeia sem educação Edite Estrela se atreve, imagine-se, a tecer considerações políticas sobre si que é um político, ups, isso, um político. Que deu à senhora? Então veio dizer que o Rei Absoluto, perdão, que o Presidente "nunca perdeu uma oportunidade de se demarcar do governo, de dificultar, aberta ou dissimuladamente, a sua acção, e até de obstruir deliberadamente muitas medidas constantes do programa eleitoral sufragado pelo povo português"? Mais disse que "durante o seu mandato, foram frequentes as quezílias, intrigas e até campanhas, dirigidas por assessores da sua confiança, destinadas a atingir a idoneidade do governo e do primeiro-ministro"? Olha! Exprimiu uma opinião política sobre a actuação de Vexa!

Claro que as pessoas queriam era saber o que teria o PR a dizer sobre isto, mas o PR não comenta porque diz ser bem educado e diz que respeita os outros.

O Senhor Presidente desculpe, mas eu estou assim que a modos que baralhada. Se eu lhe explicar que o seu mandato tem sido mau a todos os níveis e alguém lhe pedir para responder às minhas críticas, vou ouvir de si que não responde porque é bem educadinho? Mas pode explicar assim às pessoas menos letradas que Vexa. em que é que a Drª Edite Estrela foi mal educada ou em que é que o Senhor seria ordinário se soubesse, democraticamente, responder a uma crítica política? Ou o seu problema é que de facto não sabe responder, que é como quem diz não sabe viver em democracia, como tão bem mostrava nos seus tempos de maioria absoluta?

Quer que lhe diga? O senhor obstaculizou o Governo sempre que foi possível, sim: o senhor inventou o drama do Estatuto dos Açores para criar um facto político, quando aquilo era uma questão de interpretação jurídica simples, arrastando o drama em vetos políticos por razões jurídicas, em fraude à constituição, e no final nem foi o Senhor que enviou o diploma para o TC. Por quê? Porque se estava nas tintas. Queria era a barulheira que já estava criada; o senhor é campeão dos pedidos de fiscalização de constitucionalidade, o que pode fazer, sim, mas eu posso analisar o feito, e perde os processos que nem um maluco, experimente olhar para o mandato do Dr. Sampaio e aprenda, pode ser?; o senhor é responsável pela inventona de Belém, eu tive vergonha da sua declaração ao país, das mudanças sem responsabilidades nos seus assessores, o senhor tinha um projecto para acabar com o Executivo como jamais vi; o senhor dirige-se directamente às pessoas como um demagogo, esquecendo a AR, órgão ao qual se deve dirigir, mas prefere essa relação directa com o eleitorado por causa da dramatização, da criação de um poder pessoal e que sobressaia; o Senhor tem uma péssima relação com a verdade e com a coerência, o caso da inventona de Belém é paradigmático, mas quando promulga uma lei também se vê a sua horrível pele oleada; o Senhor atreve-se a estar calado sobre o CPMS durante a sua campanha, quando a sua posição lhe foi perguntada, e no momento da promulgação faz-se de virgem ofendida e lamenta não terem sido aprovadas soluções como a francesa - que tem uma lei de facto igual à que o senhor tinha vetado no ano anterior - e outras que prevêem a adopção; o Senhor faz o pedido de fiscalização da LCPMS mais cobarde da história, deixando de lado o artigo da adopção.

Eu podia continuar, porque o Senhor merece de mim uma convicção profunda: o Senhor representa tudo aquilo que nunca terá o meu voto. Fico por aqui. Sou muito educada».




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